A Rádio Comercial faz este ano 35 anos, 17 dos quais foram passados contigo. Como é que tem sido esta caminhada? Eu costumo dizer que a Comercial foi a minha Universidade, visto que não tirei um curso superior. Eu comecei a fazer rádio muito novinha, tinha 17 anos e na altura achei que deveria fazer um ano sabático depois de terminar o liceu. Talvez tivesse seguido Sociologia, mas acabei por nunca tirar o curso. Na altura em que eu cheguei aqui à Comercial, nós tínhamos uma audiência muito má. Má, é mesmo esta a palavra. Com as remodelações que foram feitas, as coisas começaram a mudar e nestes 17 anos já fiz de tudo aqui dentro. Já fiz reportagem, já entrevistei artistas, fui quase sempre destacada para ir para o estrangeiro fazer a cobertura de festivais, de concertos e tudo isso foi uma escola fantástica. Quando digo isto, não estou de forma alguma a dissuadir as pessoas de tirarem um curso superior. Hoje em dia isso é importantíssimo.
Mas este percurso começou no Rádio Clube da Moita. Tinhas apenas dezassete anos...De onde surgiu o interesse? Quando eu era pequenina, não queria ser locutora. Queria ser veterinária ou decoradora de interiores. Mas lembro-me que na altura havia na RTP aquelas senhoras que apresentavam a programação e eu adorava fazer isso para o espelho. Com onze, doze anos agarrava numa folhinha e dizia: “Já a seguir, caros telespectadores, vamos ter então o programa não sei quê…”(risos). Esta é a única coisa de que me lembro que pode remeter para o facto de ter seguido esta área. Mais tarde, estudei jornalismo no liceu. Depois apanhei aquela fase da legalização das rádios locais em que se começaram a recrutar pessoas. Um amigo meu que estava lá [no Rádio Clube da Moita] acabou por me convidar para fazer uns testes. Lá fui e olha, correu tão bem...apesar de eu na altura ter 17 anos e (esganiça a voz) falar assim como uma menina.
«Não fui eu que escolhi a rádio, a rádio escolheu-me a mim»
Tens gravações dessa altura? Tenho, é horrível! Comecei na informação, era pseudo-jornalista. Na altura chamava-se noticiarista. Quando oiço a única gravação que tenho, penso que não tinha credibilidade nenhuma. Mas ganhei-lhe o gosto. Era tudo numa onda muito local, eu ia fazer a cobertura do incêndio no prédio do bairro. Isto é muito poético de se dizer mas eu já o disse várias vezes: eu não escolhi a rádio, a rádio escolheu-me a mim. Não foi nada programado.
De que ano é esta fotografia? Com as minhas pontas do cabelo vermelhas, tão bom! Isto foi em plena rádio rock, aquilo que hoje é a Comercial. E eu era a roqueira, então assumi este visual entre Gwen Stefani e...não sei (risos). Acho que esta fotografia deve ser para aí de 1999.
Passados estes anos, ainda existe esta roqueira? Ainda existe sim, eu continuo a gostar muito de rock. Hoje em dia sou mais eclética. Mas cresci com o rock por causa do meu irmão mais velho que só queria era Led Zeppelin, Deep Purple e Rolling Stones. Tive essa formação musical e nesta rádio, então, sentia-me um peixe na água porque conhecia as bandas todas. (Volta a olhar para a fotografia) Para além disso, assumi este visual...(risos). Mas estava gira, han? São as atuais californianas...Fui eu que lancei o estilo há já não sei quantos anos.
Como eram esses tempos da Rádio Rock? Foram tempos muito bons mesmo. Nós éramos uma equipa super jovem. Tínhamos todos vinte e tal anos e estávamos a fazer uma rádio quase do nada, no fundo estávamos a recuperar uma rádio nacional. Foi um trabalho que soube bem a toda a gente e que me encheu de orgulho.
Há pouco disseste que não tens um curso superior. Achas que isso te poderá ter fechado algumas portas? Não, nada. Se eu tivesse sentido isso, voltaria a estudar. É curioso que aqui na rádio, há muita gente da minha geração sem essa formação. Eu, o Pedro Ribeiro, o Nuno Markl...não temos cursos universitários. Felizmente, fui sempre sendo convidada para integrar projetos interessantes. Por isso, tive sempre medo de, caso decidisse tirar um curso, perder o posto de trabalho que entretanto tinha assegurado.
Passados estes anos, ainda existe esta roqueira? Ainda existe sim, eu continuo a gostar muito de rock. Hoje em dia sou mais eclética. Mas cresci com o rock por causa do meu irmão mais velho que só queria era Led Zeppelin, Deep Purple e Rolling Stones. Tive essa formação musical e nesta rádio, então, sentia-me um peixe na água porque conhecia as bandas todas. (Volta a olhar para a fotografia) Para além disso, assumi este visual...(risos). Mas estava gira, han? São as atuais californianas...Fui eu que lancei o estilo há já não sei quantos anos.
Como eram esses tempos da Rádio Rock? Foram tempos muito bons mesmo. Nós éramos uma equipa super jovem. Tínhamos todos vinte e tal anos e estávamos a fazer uma rádio quase do nada, no fundo estávamos a recuperar uma rádio nacional. Foi um trabalho que soube bem a toda a gente e que me encheu de orgulho.
Há pouco disseste que não tens um curso superior. Achas que isso te poderá ter fechado algumas portas? Não, nada. Se eu tivesse sentido isso, voltaria a estudar. É curioso que aqui na rádio, há muita gente da minha geração sem essa formação. Eu, o Pedro Ribeiro, o Nuno Markl...não temos cursos universitários. Felizmente, fui sempre sendo convidada para integrar projetos interessantes. Por isso, tive sempre medo de, caso decidisse tirar um curso, perder o posto de trabalho que entretanto tinha assegurado.
Como é que foi a experiência do Top Rock? Fiz o Top Rock com o Alvim e o Pedro Marques. Começou por ser programa aqui da rádio, aos sábados de manhã. Depois de uma proposta do Luís Montez, diretor da Comercial na altura, adaptámos o programa para o formato televisivo. O Luís Montez achou que eu era uma miúda que era capaz de fazer um bom boneco na televisão e eu aceitei a proposta por gostar de desafios. Mas nunca gostei de me ver, confesso. Acho que durou de 1999 a 2001 mas infelizmente não temos nada guardado deste tempo.
Como é que lidas com este sucesso das Manhãs da Comercial? Não é fácil. Eu sou muito envergonhada e tímida, apesar de não parecer. Eu nem gosto de imaginar que há uma parte da manhã em que nós temos, em média, um milhão de ouvintes. Prefiro pensar que são só meia-dúzia de pessoas que vão nos carros para o trabalho. Não vou dizer a um milhão de pessoas que tenho umas cuecas do Benfica (risos)! Tenho que pensar que não está quase ninguém a ouvir para não perder a minha naturalidade. Muitas vezes esquecemo-nos que estamos a falar para tanta gente ou até mesmo que estamos no ar. Há um guião, mas quase nunca o usamos. Com este sucesso, somos muito conhecidos. Temos ouvintes como nunca, acho que é mesmo um máximo histórico da rádio em Portugal.
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«Se estou num dia 'não', tenho que ir buscar simpatia e boa disposição. As pessoas merecem que eu lhes responda com educação e disponibilidade» |
Não é vulgar que os locutores de rádio tenham a projeção que nós temos. Digo isto sem qualquer vaidade, é uma constatação. Ainda no outro dia estava um senhor atrás de mim no Pingo Doce que me disse: “Oh Vanda, deixe-me lá tirar uma fotografia consigo”. E eu: “Então mas aqui, com o papel higiénico atrás?! Ao menos vamos para o pé dos pêssegos ou das laranjas!” (risos). Mas há a parte difícil. Se estou num dia 'não', tenho que ir buscar simpatia e boa disposição porque as pessoas merecem que eu lhes responda com educação e disponibilidade.
É também a fusão da rádio com o digital que vos dá essa visibilidade. Como é que vês esta combinação? Muito positiva. A rádio é como o rock: já lhes foi anunciada a morte não sei quantas vezes. A rádio tem sido muito inteligente em reconhecer o aparecimento destas plataformas digitais, das redes sociais e dos vídeos e de integrá-las no seu dia-a-dia. A webcam, por exemplo, é um plus na emissão. As pessoas agora podem espreitar para dentro do estúdio. Embora eu não saiba o que elas vão lá fazer porque só vão ver as nossas caras de sono (risos). De facto, as redes sociais dão-te um contacto muito direto com o público. O feedback é imediato. Tudo isto é muito positivo porque nos ajudou a perceber o que é que o público quer e o que é que resulta no ar.
É também a fusão da rádio com o digital que vos dá essa visibilidade. Como é que vês esta combinação? Muito positiva. A rádio é como o rock: já lhes foi anunciada a morte não sei quantas vezes. A rádio tem sido muito inteligente em reconhecer o aparecimento destas plataformas digitais, das redes sociais e dos vídeos e de integrá-las no seu dia-a-dia. A webcam, por exemplo, é um plus na emissão. As pessoas agora podem espreitar para dentro do estúdio. Embora eu não saiba o que elas vão lá fazer porque só vão ver as nossas caras de sono (risos). De facto, as redes sociais dão-te um contacto muito direto com o público. O feedback é imediato. Tudo isto é muito positivo porque nos ajudou a perceber o que é que o público quer e o que é que resulta no ar.
Neste momento, és a única animadora das Manhãs que não participa num programa de televisão. É uma opção tua? Não acho que a minha carreira só fique completa se fizer as duas coisas, rádio e televisão. Já tive algumas propostas. Houve projetos que não foram para a frente e outros em que eu própria achei que não eram a minha praia. Eu já acordo tão cedo que gosto muito de ter tempo para uma sesta e para os meus filhos. Se um dia surgir uma oportunidade e um projeto que eu goste, talvez diga que sim.
Bilhete de Identidade |
Os teus filhos acham que têm uma mãe famosa? Os meus filhos não acham piada nenhuma. A minha filha, a Sofia, que já tem 19 anos, é super tímida. Não tem interesse nenhum pelo mundo da rádio a não ser pelos bastidores. O meu filho Tiago é muito pequenino, tem cinco anos, mas fica muito chateado quando eu o vou buscar à escola. Os pais dos amiguinhos dele e das crianças das outras turmas são ouvintes da rádio então, quando eu lá entro [na escola], eles fazem uma grande festa: "Vanda, Vanda, ouvi-te esta manhã!". Fazem-me sempre uma festa, pedem-me autógrafos nos caderninhos e o meu filho não percebe muito bem o que se passa. Ele sabe que a mãe trabalha na rádio mas não tem muita noção, então às vezes puxa-me a mão e diz: "Oh mãe, que chatice! Os meninos não te largam". Apesar disto, penso que a Sofia terá orgulho no meu trabalho. Estas coisas de ter uma mãe conhecida e famosa não lhes sobe à cabeça assim como também não me sobe a mim.
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Qual é a história mais insólita que tenhas com um ouvinte? Eu, felizmente, nunca fui maltratada. Claro que não agrado a gregos e a troianos e isso é perfeitamente natural. Com o aparecimento das redes sociais criou-se aquela sensação de que se pode dizer tudo e ofender de forma gratuita. Mas as pessoas têm sido muito simpáticas comigo ao longo da vida. O mais insólito são mesmo os presentes que me enviam.
Qual foi o presente mais engraçado? Eu sei lá, até roupa interior me mandaram. Roupa interior nova, atenção. No outro dia estava a comentar no ar que o meu filho Tiago faz coleção das cartas dos Invizimals, ou lá como é que se chama aquela coisa. Passado uns dias recebi uma carta deliciosa de uma menina de uns oito ou dez anos, que dizia: "Olá Vanda, como disseste que o teu filho faz coleção de Invizimals, eu tenho aqui estas cartas para a troca. Vão aqui no envelope. Vê lá se ele já tem estas ou não". Tenho ali a carta na minha secretária e tenho que lê-la no ar. As pessoas tratam-me mesmo como se me conhecessem. Isto é o melhor que se leva desta profissão. Não é a fama, não é nada disso. É a relação que crias com as pessoas.
Qual foi o presente mais engraçado? Eu sei lá, até roupa interior me mandaram. Roupa interior nova, atenção. No outro dia estava a comentar no ar que o meu filho Tiago faz coleção das cartas dos Invizimals, ou lá como é que se chama aquela coisa. Passado uns dias recebi uma carta deliciosa de uma menina de uns oito ou dez anos, que dizia: "Olá Vanda, como disseste que o teu filho faz coleção de Invizimals, eu tenho aqui estas cartas para a troca. Vão aqui no envelope. Vê lá se ele já tem estas ou não". Tenho ali a carta na minha secretária e tenho que lê-la no ar. As pessoas tratam-me mesmo como se me conhecessem. Isto é o melhor que se leva desta profissão. Não é a fama, não é nada disso. É a relação que crias com as pessoas.
Este horário da manhã não se torna cansativo? Não vou enganar ninguém, acordar cedo é a pior parte. É muito cansativo. Comecei por acordar às cinco e meia, agora já acordo as cinco e quarenta e cinco. Mas mesmo estando eu na cama às dez da noite, acho que há qualquer coisa contra-natura no facto de despertares àquela hora da madrugada. Tens sempre aquela sensação de que mais ninguém no mundo está a trabalhar àquela hora. O Pedro Ribeiro já faz este horário há, para aí, uns quinze anos
Não sei como é que ele aguenta. |
«Há dias em que não quero falar. Não quero dizer nada para o microfone. Mas este é o meu trabalho e eu vou entrar no ar. Portanto, vamos lá» |
Eu vou em sete e já estou de rastos (risos)! É um muito exigente emocionalmente: eu nunca posso estar mal. Há dias em que não quero falar, não quero dizer nada para o microfone. Mas este é o meu trabalho e eu vou entrar no ar. Portanto, vamos lá.
Apesar do cansaço, há sempre vontade? Sim, há sempre vontade. Mesmo quando o cansaço é muito, mesmo quando as férias estão a quinze dias, como é o caso neste momento, e já te andas a arrastar e a contar os dias. A vontade está sempre lá. Às vezes estou em casa e dou por mim a pensar em coisas que poderia inventar e recriar na rádio, mesmo estando absolutamente exausta. Enquanto houver vontade e força anímica, vou dar sempre o meu melhor. Devo gostar mesmo disto.
Apesar do cansaço, há sempre vontade? Sim, há sempre vontade. Mesmo quando o cansaço é muito, mesmo quando as férias estão a quinze dias, como é o caso neste momento, e já te andas a arrastar e a contar os dias. A vontade está sempre lá. Às vezes estou em casa e dou por mim a pensar em coisas que poderia inventar e recriar na rádio, mesmo estando absolutamente exausta. Enquanto houver vontade e força anímica, vou dar sempre o meu melhor. Devo gostar mesmo disto.
Por: Margarida Andrade Silva